Comparar centros de abate com as sucatas é quase uma ofensa

2010-09-17

Comparar centros de abate com as sucatas é quase uma ofensa

“Comparar centros de abate com as sucatas é quase uma ofensa”

Afirma o responsável pela Zenit Automóveis, Tiago Almeida


Os antigos sucateiros estão a dar lugar a centros de recolha e abate de viaturas em fim de vida (VFV). Praticamente concluída, a transição é notória e basta circular pelas estradas nacionais portuguesas para se perceber que a imagem desagradável de ver automóveis velhos jazerem a céu aberto é uma realidade cada vez mais rara. O ambiente e os olhos agradecem.

O sócio-gerente da Zenit Automóveis, empresa associada da ARAN que se dedica ao abate de VFV — o comércio de peças, o reboque das viaturas a desmantelar e a venda de automóveis são outras áreas de negócio — realça a diferença para os antigos sucateiros. "Compararem-nos é quase uma ofensa. A nossa atividade não tem nada a ver uma sucata. Nós somos comerciantes de peças e um centro de abate, em que damos um tratamento à viatura e não a deixamos ao abandono", defende Tiago Almeida.

Desde que uma viatura em fim de vida entra nas instalações da Zenit Automóveis passa por um processo completo de desmantelamento. "Após recebermos o carro, este é descontaminado, retiramos a bateria e todos os líquidos", explica Tiago Almeida. "Depois, a viatura é submetida a uma reciclagem de peças, em que lhe são retirados os plásticos, os pneus, os vidros, aproveitamos material de mecânica, material de chapa, etc. Destas peças, algumas são reaproveitadas para o mercado e naquelas em que isso não é possível, são enviadas para empresas que fazem a reciclagem do produto em questão", detalha.

A empresa, que tem capacidade para desmantelar cerca de um milhar de automóveis por ano, cumpre as imposições legais, o que é "a norma no sector", de acordo com Tiago Almeida. "Quem quiser estar no mercado, das duas uma, ou cumpre, e trabalha e evolui, ou não cumpre e está sempre a ser autuado, devido às fiscalizações ambientais", avisa.
Ana Almeida, outra responsável pela Zenit Automóveis, garante preocupar-se apenas com a empresa sediada em Vila Verde, perto de Braga: "Nós sabemos que cumprimos todas as normas e tentamos ser inovadores de forma a sermos competitivos. Em relação aos concorrentes, sabemos o geral da atividade, mas não conhecemos formas específicas de trabalhar.
Com certeza que haverá concorrência desleal, mas nós preocupar-nos com o que fazemos".

Mercado
"começa a valorizar"

O mercado "começa a valorizar", segundo Ana Almeida, as empresas de abate de VFV que cumprem todos os requisitos legais e ambientais. "Nós damos uma assistência comercial muito boa, procuramos que o cliente saia o mais satisfeito possível e damos assistência no pós-venda.
Isso começa a ter valor e ser importante para quem vai comprar uma peça. Nós temos as portas abertas aos clientes e, sempre que possível, mostramos o que fazemos para que se perceba a importância da reciclagem do parque automóvel", defende a mesma fonte.

Para Tiago Almeida, "é importante para o cliente, quer seja particular, quer seja uma oficina, saber que está a comprar numa casa que lhe vai dar garantia" da peça em questão. "Quando percebem que estão numa empresa certificada, sabem que se por algum motivo tiverem necessidade de reclamar a peça, estamos lá e assumimos. Pelo contrário, se forem a uma entidade que trabalhe de forma diferente da nossa, os clientes vão reclamar a peça com defeito, mas não é assumido.
Nós assumimos", afirma.
O incentivo fiscal à aquisição de automóvel novo ao abate de VFV já foi maior, em termos de emissões da viatura a desmantelar e do montante atribuído, e é previsível que essa malha continue a apertar. Esse facto "preocupa muito" Tiago Almeida. "A maior fatia do nosso mercado são as viaturas que nos chegam através do incentivo estatal para o abate de VFV para a compra de automóveis novos. Se diminuírem ao incentivo, na compra de carros novos vai haver menos abates, claro. Ora, automaticamente, a nossa atividade de reciclagem vai diminuir de forma proporcional", afirma o responsável máximo pela Zenit Automóveis.

Ana Almeida avisa que, em paralelo, essa menor atividade dos centros de abate vai ser sinónimo de menor abastecimento de peças ao parque circulante. "Há dois tipos de viaturas, os carros muito velhos quase sem aproveitamento de peças e outros que ainda têm algum valor comercial, em que há algum aproveitamento de peças", refere. "Aqueles carros de que as pessoas se querem desfazer, pois não têm valor comercial, acabam por dar-nos prejuízo, pois descontaminamos, retiramos os resíduos perigosos e enviamos os materiais para reciclagem, mas não há aproveitamento de peças. No caso dos veículos com algum valor comercial, esse aproveitamento existe, pois o mercado tem necessidade de abastecimento, mas só com um incentivo ao abate é que se justifica a entrega do carro para desmantelamento", explica Ana Almeida.

Auxílio da ARAN

A Zenit Automóveis é associada da ARAN praticamente desde que foi fundada, em 2008.
Esse facto é, refere Ana Almeida, uma vantagem para a empresa. "Tem-nos permitido aceder a uma série de informações e receber apoio nas mais diversas áreas, como seja, por exemplo, o marketing. Sempre que recorremos ao auxílio da ARAN temos sido bem apoiados. Temos sido ajudados a resolver alguns problemas, em especial no preenchimento das informações na área ambiental, em que frequentámos formações da ARAN", detalha.

 

[Artigo publicado no jornal ARAN nº 238 de 2010]