O fim do incentivo à compra "abate" negócio dos...

2010-12-17

O fim do incentivo à compra "abate" negócio dos...

O fim do incentivo à compra "abate" negócio dos centros de desmantelamento

O fim do incentivo ao abate de veículos em fim de vida (VFV) em sede de ISV vai prejudicar as empresas nacionais que se dedicam ao desmantelamento. "Esta medida vai ter um impacto negativo na nossa atividade", garante à "Vida Económica' Ana Almeida, da Zenit Automóveis, sediada em Vila Verde. "Quase 60% [dos abate feitos pela empresa] são provenientes dos concessionários. Perdendo esse canal, o volume de negócio baixa drasticamente, como é lógico. Agora, encontrar alternativas para tentar colmatar essa baixa não vai ser muito fácil", refere a mesma fonte.

A empresa do distrito de Braga tem capacidade para desmantelar cerca de um milhar de automóveis por ano. O comércio de peças, o reboque das viaturas a desmantelar e a venda de automóveis são outras áreas de negócio da empresa, mas o desmantelamento é a maior. "

A nossa fonte de rendimento são, essencialmente, os carros que abatemos e depois as peças que temos, mas, claro, em função das viaturas que entram nas nossas instalações", explica Ana Almeida.

A responsável pela Zenit Automóveis "gostaria que o Governo", no futuro, viesse a recuperar a medida de incentivo ao abate de VFV, mas tem "poucas esperanças". "Vai ser muito difícil. Em outros países, como Espanha, por exemplo, os governos acabaram com a medida e não voltaram a abrir e temo que Portugal não vá ser uma exceção", reconhece. Ana Almeida avisa que "o fim da medida não vai ter um impacto negativo" apenas para as empresas que dedicam ao desmantelamento de viaturas, mas também para aquelas que se dedicam ao comércio de novos. "As vendas de alguns carros novos eram feitas em função de existência do incentivo ao abate de VFV, deixando as marcas de ter esse forte argumento de venda", considera.

"Para nós, é uma medida complicada. Vai haver muito menos carros, logo menos mercadoria". É assim que Álvaro Mendes, um dos sócios da Peci Penela, qualifica o fim do apoio ao abate de carros velhos em caso de aquisição de um novo.

O mesmo responsável afirma, ainda assim, que "carros para abate vai haver sempre", dando como exemplo as viaturas sinistradas a que as companhias de seguros atribuem perda total na avaliação. "Hoje, há mais perdas totais do que antes", defende. "Mas claro que, mesmo assim, vamos perder muito e se a medida continuasse teríamos muito mais trabalho", sublinha, contudo, Álvaro Mendes. O empresário notou, de resto, um incremento de viaturas para desmantelar chegadas à empresa ao abrigo do incentivo ao abate de VFV, desde que o fim da medida foi anunciado pelo Governo. "Nos últimos dois meses, temos dois e três carros por dia, o que antes não acontecia. Mas, ainda assim, tínhamos sempre muitas viaturas", explica o responsável pela empresa do distrito do Coimbra. O sócio-gerente da Peci Penela não acredita que o apoio ao abate em sede de ISV volte a existir em Portugal nos anos mais próximos.

No caso de empresas que acumulam a atividade de oficina com o centro de desmantelamento, como a Fernando Boucinha Macedo & Filhos, o fim do incentivo acaba por ter um efeito neutro.

"No nosso caso, em termos globais do negócio, podemos ter até vantagens, já que a atividade que perdemos [no centro de abates] acabaremos por recuperar aqui na parte da oficina, com um maior números de reparações", segundo explica Eva Boucinha. "Perde-se de um lado, mas ganha-se do outro", acrescenta a mesma responsável pela empresa de Neiva (Viana do Castelo).

AQUILES PINTO 
aquilespinto@vidaeconomica.pt

[Artigo publicado no jornal ARAN nº 241 de 2010]